quinta-feira, 20 de julho de 2023

Jean Willys, Eduardo Leite e a fronteira dos lados

 UOL: A contenda entre Jean Willys e Eduardo Leite



Já começou mal

Depois de 4 anos de insanidades patrocinadas pelo “mito” e seus adoradores, tudo o que o país não está precisando neste momento é de alguém que chegue da Espanha pra incendiar ainda mais o clima político que mal começou a esfriar. O Sr. Jean Willys deu hoje uma inequívoca demonstração daquele velho discurso do “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”, que de nada serve para apaziguar os ânimos e acabar com a polarização que, por si só, já se mostra exaustiva o bastante para os amantes da paz. 

Mas se fosse apenas pela animosidade que alguns insistem em manter ainda passava, mas o novo integrante da SECON no governo Lula, numa única postagem, fez tudo o que ele sempre criticou na direita desde que ingressou na política, e do qual afirma vir sendo vítima ao longo de toda a sua trajetória como deputado federal. 

Ele já começou escolhendo mal o alvo de seu ataque: uma pessoa de direita sim, mas vista por ele como um inimigo a destruir, mesmo sem tê-lo provocado, o que transforma sua fala num ataque gratuito justamente contra um político cujo perfil em nada lembra o militante radical que estivemos acostumados a ver nesses últimos anos de extremismo fascitóide no exercício do poder. Mas ficará mais facil entender o caso se nos atermos às palavras do Jean Willys em sua postagem dirigida a Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, em resposta a uma postagem deste último no Twitter: 

Que governadores héteros da direita e extrema direita fizessem isso já era esperado. Mas um gay...? Se bem que gays com homofobia internalizada em geral desenvolvem libido e fetiches em relação ao autoritarismo e aos uniformes. Se for branco e rico então... Tá feio, bee!” 

Isto porque o governador publicou que irá manter o programa de escolas cívico-militares no RS. Então é o caso de se perguntar:  E daí, Sr. Jean Willys? Está querendo dizer que o direito ao contraditório só vale para a esquerda e não para a direita, mesmo que seja prerrogativa dela e em plena consonância com a lei? Até porque Eduardo Leite reagiu como é esperado de qualquer legalista: buscou os caminhos legais para reparar os danos pelo ataque que recebeu, sem rebaixar-se ao nível do agressor. 

Jean Willys poderia até ter se posicionado contra a idéia do político – que é seu direito constitucional – mas não proferindo ataques à pessoa humana, e muito menos com insinuações caluniosas associadas à sua orientação sexual, que denuncia um revanchismo raivoso contra os algozes que seus diálogos internos lhe ditam, e não necessariamente os da realidade que vivenciamos. Como gay que assume sua condição, ele se posiciona como defensor dos direitos das pessoas LGBT+, mas usa dos mesmos meios que condena em seus agressores ao atacar a moral de Eduardo Leite com expressões homofóbicas não direcionadas ao político, mas à pessoa do governador e de forma gratuita, já que Leite simplesmente tornava pública uma posição que lhe compete enquanto gestor,  concordemos ou não com ela. 

Como alguém de pensamento político identificado com as premissas de um governo de esquerda, também sou contrário às escolas cívico-militares por “n” razões, mas é uma posição pessoal com quem ninguém precisa concordar. Mas a partir do momento em que taxamos todo e qualquer militar de fascista, não fazemos nada diferente do que os militares fizeram nos 21 anos de ditadura, quando acusavam toda pessoa de esquerda de ser comunista. 

Pessoalmente, meu sentimento ao ler a fala de Jean Willys ao governador do RS foi de repúdio e constrangimento, ao ver alguém  que se diz de esquerda contrariando todos os princípios que a esquerda se propõe a defender. Principalmente quando faz uso dos mesmos meios com que essa esquerda se deparou ao longo de toda a sua história, na tentativa de substituir combates pessoais pelo amplo debate no plano das idéias. 

E o que fez o Sr. Jean Willys com sua fala, se não dar mais munição aos que acreditam que adversário político é um inimigo a exterminar, em vez de um contraponto que nos desafia a crescer? Simplesmente reacendeu o rastilho de pólvora que se esteve tentando extinguir nos últimos meses, com a retomada da legalidade e da definição clara entre crime e direito de expressão, entre patriotismo real e conspiração, entre escolhas ideológicas e o que determina a lei. 

Jean Willys tão somente ofereceu aos radicais a prova que eles tanto buscavam de que ser de esquerda ou de direita é mera questão de lados, pois que as armas são exatamente as mesmas, e o “lado certo” tem mais a ver com a trincheira que escolhemos ocupar do que com os valores que se precisa preservar.  Defendê-lo, simplesmente porque se diz de esquerda, é adotar tais premissas, e nas próximas disputas não se ater às propostas dos diferentes lados, mas sortear qualquer um deles nos dados, o que é lamentável! 


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