sábado, 22 de julho de 2017

CIVILIDADE & CIDADANIA - Riots-A busca pelo entendimento dos grandes conflitos sociais






INTRODUÇÃO

A partir deste introito, a idéia é dar sequência a uma série de reflexões acerca dos crescentes conflitos sociais que enfrentamos no Brasil, mas que começam a assolar os grandes centros urbanos de todo o planeta, dos quais um dos mais marcantes de nossa história mais recente foi o da Inglaterra em 2011, que ficou conhecido nas manchetes por todo mundo como “The London Riots”, mas que na verdade se estendeu a várias outras cidades inglesas em vez de permanecer restrita apenas a Londres, como sugere o título.

A escolha do “London Riots” para embasar este início de conversa não vai além de uma referência para, através de seu exemplo, podermos entender tanto o nosso momento nacional quanto seus desdobramentos futuros, além, é claro – e principalmente – as razões que levam essas pessoas a adotar meios extremos que nem sempre são assimilados pela parte da população que não vive suas realidades e, porque não dizê-lo, na maioria das vezes nem se detém a conhece-las para, minimamente, entender-lhes as motivações. Daí porque elas, enquanto realidades segregadas e desconhecidas da maioria, persistem e se agravam sem que os de um lado consigam visualizar alguma solução em vez de meros e indisfarçáveis paliativos, e os do outro lado continuem tocando suas vidas como se não fosse nada que lhes dissesse respeito até que, como agora, começam a incomodar mais do que de costume!

Quem me lê poderá se perguntar o que isso tem a ver com o momento político que enfrentamos atualmente no Brasil, notadamente – e com ainda mais ênfase – aqui no Rio de Janeiro, com a explosão da violência que já atinge níveis alarmantes, de como não se tem relatos nem em momentos de crises anteriores fora daqueles períodos oficialmente considerados como de “anormalidade política” ou em “regime de exceção”, como o experimentado na Venezuela neste ano de 2017.

Tendo em mente que o veículo utilizado para esta discussão é um blog com foco em cidadania, e não uma instituição voltada para estudos sobre o assunto, a proposta não é a de apresentar dados oficiais nem análises científicas sobre os aspectos abordados, tanto para não tornar a leitura enfadonha a interessados leigos quanto porque também expressa a visão de um observador leigo que não tem como objetivo posicionar-se como especialista em sociologia ou dar ao texto qualquer conotação de estudo político, discurso ideológico ou ensaio antropológico. Como dito no início, o sentido maior é o de promover reflexão sobre um fenômeno social que começa a fugir ao controle dos poderes constituídos e que, ao longo dos últimos 50 anos em que acompanho parte dessa história, ainda não a havia percebido com semelhante grau de intensidade, e nem com tal sentimento de insegurança quanto ao que ainda está por vir, como nestes tempos em que a vivenciamos.

Como qualquer reflexão, o que se pretende é que as visões aqui expostas não passem nem perto dos tradicionais alarmismos comuns aos desvairados “coments” das redes sociais, mas que suscitem  discussões que se prestem a, pelo menos, iniciar debates cada vez mais aprofundados sobre esse  fenômeno, e que como consequência deles possamos, de alguma forma, fazer chegar nossas visões a quem de direito, sejam movimentos que detenham influência o bastante para cobrar respostas, seja por uma atuação mais ativa da mídia para sair do papel de mero relator ou manipulador dos fatos para o de real agente e voz da população acuada, como também para se começar a exercer uma pressão mais incisiva sobre os poderes que precisam buscar estratégias efetivas para reverter uma situação já claramente fora de seu controle.

Sabe-se que grandes tragédias sociais vêm acontecendo diuturnamente e se estendendo por tempo demais, sem que em relação a elas seja sequer acenado com uma data para término pelos poderes constituídos, como é o caso absurdo do atraso do pagamento dos servidores públicos tanto ativos quanto inativos do estado do Rio de Janeiro. Ainda que não se manterá as discussões circunscritas apenas a essa questão, desconheço qualquer registro histórico de que algo do tipo já tenha ocorrido antes, o que já seria motivo para impugnar-se qualquer governo ou, no mínimo, exigir-se dele a imediata solução para uma iniquidade à qual se está dando tratamento de doença crônica, em vez de emergencial, tal o estado de indiferença oficial e conveniente cegueira institucional a que se chegou num país que apregoa estar-se vivenciando uma “democracia plena”. Milhões de trabalhadores sobrevivendo à mingua, atingidos no que há de mais profundo em sua dignidade e direito à proteção mínima pelo estado, e seus representantes agem como se tudo não passasse de uma “contingência” que se precisa enfrentar mas que, por enquanto, não há nenhuma solução em prazo visível. “Como assim!?” poder-se-ia perguntar, com os olhos fixos nos olhares compadecidos e “solidários” desses governantes, a maior parte envolvida em grandes escândalos de ataques bilionários aos cofres púbicos: “Isso é tudo o que vocês tem a dizer a respeito?”...

Na continuidade desta reflexão, e ao longo de seus diferentes aspectos, vamos mexer em algumas dessas feridas que a cada dia vêm se agravando para um câncer que, após alcançar o estágio de metástase, irá atingir impiedosamente todas as células desse nosso já doente organismo social, independente de em qual deles você se situe. A sugestão é que comecemos pela leitura desta nossa referência na sociedade britânica, de forma a que possamos todos ser inseridos no assunto com um maior – e comum – entendimento do assunto sobre o qual estamos falando. Dispensável dizer que todos os comentários, sugestões, críticas e opiniões a favor ou contra serão muito bem-vindos!

Para concluir esta introdução resta dizer que, independente do caráter dos textos apresentados nos links e referências que utilizaremos, o objetivo de mostra-los não será o de levantar bandeiras de apoio ou utilizá-los à guisa de denúncias, mas tão somente subsidiar os assuntos que serão abordados ao longo da série de textos.

Abaixo os primeiros links selecionados que poderão embasar nossos próximos argumentos.
Grato a todos!


The London Riots - O outro lado dos conflitos em Londres [14.08.2011]:
(Vídeo de depoimento à BBC de Darcus Howe, militante e escritor que declara vivenciar a discriminação racial em Londres desde que lá chegou há 50 anos):
https://www.youtube.com/watch?v=6W6DGJmi_30

Tumultos na Inglaterra em 2011:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tumultos_na_Inglaterra_em_2011






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