sábado, 8 de outubro de 2022

Análise: Quais as chances de Lula conseguir se eleger?

 







        Nenhum candidato a Presidência, em 1º lugar nas pesquisas a menos de 1 mês do 1º turno, acabou perdendo a eleição após 1989, a primeira eleição direta para Presidente desde 1961, quando ocorreu a última eleição democrática anterior à ditadura militar. 

A média das pesquisas de opinião indubitavelmente acertam ao determinar a maior ou menor probabilidade de um cenário ocorrer, por mais que os bolsonaristas digam que pesquisas de opinião não merecem crédito por terem errado aqui e acolá no passado (o que é equivocado, pois que simplesmente levantam o nível de convicção do eleitor naquele momento da campanha, e não o resultado final da eleição). Os eleitores do presidente, no entanto – e por motivos óbvios – acreditam em qualquer instituto, por mais desconhecido que seja, que ponha Bolsonaro em empate técnico com Lula. (Veja aqui gráficos e séries históricas de pesquisas eleitorais desde o ano 2000 durante eleições presidenciais e do legislativo:  https://www.poder360.com.br/agregador-de-pesquisas/ )

Há ainda o fato de que a tendência verificada ao longo dos meses confirma o quanto Bolsonaro vem, sim, ganhando terreno. Mas está fazendo isso em ritmo tão lento que, se não houver uma enorme aceleração nas últimas semanas antes da decisão final, precisaria pelo menos de mais 3 a 4 meses para superar Lula acima da margem de erro. A campanha eleitoral agora é muito mais curta, e se torna mais curta ainda em relação ao elevado grau de convicção que se atingiu neste ano, com mais de 70% dos eleitores totalmente decididos a mais de 1 mês antes do 1º turno. 

Descreveu-se um cenário de considerável piora para Lula no 1º turno comparado ao que se esperava, com base nas pesquisas mais recentes. Ainda assim fica difícil que perca no 2º turno devido à sua base bastante consolidada no Nordeste, a menos que perdesse gritantemente em todas as outras regiões, como aconteceu em 2018.

Mas, por outro lado, Bolsonaro tem a máquina do Estado nas mãos. Só isso já aumenta bastante sua chance de virar o jogo no último momento da campanha antes do pleito, colocando todo o foco, dinheiro e tempo no aparato público (disfarçada ou até mesmo escancarada como ocorreu no 7 de setembro) em prol de sua reeleição. Ele conseguiu, por exemplo, reunir uma avalanche de dinheiro público não previsto no orçamento usando o artifício inacreditavelmente fácil e maleável das Emendas de Relator (orçamento secreto), já que quem tem o apoio do Congresso, no Brasil, pode fazer qualquer coisa, atropelar qualquer lei, ou até fazer promessas não factíveis.

         Promessa de campanha de Bolsonaro, o Auxílio Brasil de R$ 800, por exemplo, não está nas contas da equipe econômica, e a área técnica do Ministério da Economia não recebeu nenhum cálculo do impacto do aumento sobre o orçamento da união.

https://valor.globo.com/politica/eleicoes-2022/noticia/2022/09/09/promessa-de-campanha-de-bolsonaro-auxilio-brasil-de-r-800-nao-esta-nas-contas-da-equipe-economica.ghtml 

Em meio à campanha, a mensagem presidencial encaminhada junto com o projeto contém a promessa de buscar a retomada dos R$ 600, mas sem dar detalhes:

  https://www.em.com.br/app/noticia/economia/2022/08/31/internas_economia,1390344/bolsonaro-propoe-auxilio-brasil-de-r-405-apesar-de-prometer-r-600.shtml 

    Bolsonaro tem também a base eleitoral com uma militância (muito) mais aguerrida, incondicional, fervorosa, mobilizada e apaixonadamente convicta (aliás, o problema dela é excesso de tudo isso, e não falta dela). Isso ajuda na "propaganda gratuita" em prol do candidato. E ao contrário de qualquer outro candidato, Bolsonaro tem um segmento religioso inteiro, com 30% da população sob sua influência, atuando com um fervor que não se via desde os primórdios da cristianização, só que agora em prol de um movimento político-ideológico, fazendo uso de um discurso não apenas religioso, mas até mesmo apocalíptico. Todos esses fatores trazem muita vantagem para sua campanha, com milhares de pessoas sob influência do que lhes é mais caro: o seu lado espiritual, e não apenas o racional. 

Bolsonaro tem ainda uma sustentação financeira nada desprezível: uma campanha extraoficial bancada por fontes privadas (megaempresários) para suas caravanas, motociatas, muitimídia, outdoors, etc., sobretudo por parte do agronegócio, além do que se poderia chamar de “nata da economia clandestina” como os chefões do garimpo, da grilagem, da agropecuária ilícita em terras públicas e indígenas e das corporações multifacetadas como as milícias urbanas. Por todos esses fatores as chances de vitória de Lula caem de, digamos, uns 75% para um índice entre 55 e 60%, considerando que permanece em 1º lugar, fora da margem de erro, a menos de 1 mês do 2º turno, com maior probabilidade de ganhar do que de perder.

A partida ainda não está decidida porque Bolsonaro, ao contrário dos outros candidatos, não esbarra em limites que impeçam sua autopromoção, sejam eles institucionais, financeiros ou, muito menos,  éticos. Vale até transformar o bicentenário da independência em um comício explícito de campanha e, em alguns momentos, até vulgar, quando o “Brasil acima de todos” foi atropelado na efeméride maior de sua história e o Estado brasileiro sequer foi mencionado, convertido que foi em instrumento de campanha. 

O jogo não está ganho, principalmente diante de um adversário que, além de ter a máquina governamental nas mãos, tem a tradição da reeleição contando a seu favor e não teria pudor em ganhar fora das regras do jogo, exatamente como aconteceu no primeiro mandato.


0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial