Publicação mostra o lado podre do ser humano a que o autor empresta rosto, atribui raça e identidade comum. Os que se sentiram atingidos, como ele mesmo disse que aconteceria, o odiaram por isso. A outra parte que não se viu retratada no texto o aplaudiu pela coragem e sentiu-o seu porta-voz. O fato é que, gostemos ou não, muito do que ele diz aí é reconhecido como verdadeiro pela maioria, e o que muda é o sentimento a respeito. A reflexão deveria permanecer, no entanto, na cabeça de todos, com humildade o bastante para buscar a resposta sobre onde está o erro e, mais do que isso, como é que podemos mudar tudo que o texto mostra e que realmente faz sentido!
O país tem 9 mil km de praias, a ainda maior floresta do mundo, a maior bacia
fluvial do mundo, montanhas, neve, deserto e não tem inimigos naturais além das
suas mal controladas fronteiras. Por que o país é então o que é? A cada
reflexão, a cada vez que me confronto com essa mesma pergunta, a resposta se
torna cada vez mais óbvia. É duro, mas é a pura verdade. O pior do Brasil é o
povo brasileiro.
Sei que isso causa espanto em 99% dos meus patrícios, alguns dirão que virei
suíço, outros que não sou patriota e que é preciso amar a pátria acima de tudo.
Onde consta que é preciso amar a pátria acima de tudo? O que foi que a pátria
fez por mim para que eu a amasse? O que essa mesma pátria fez pelos meus pais,
e avós e o que está fazendo pela minha filha?
Mas eu vou além. Dizer que ama o Brasil e cometer os mesmos erros e crimes que
a maioria comete não é amar, é fingir que ama, é amar da boca para fora. Tenho
uma visão diferente do que é amor, e é muito diferente dessa oportunista de
bandeiras durante a Copa do Mundo, de e-mails com textos mentirosos dizendo que
o Brasil é o que nunca foi. O melhor país do mundo.
Mentir para si mesmos e para os outros não é amor, é ilusão, é subterfúgio a
triste realidade dos fatos.
Eu não consigo fingir que amo o Brasil, eu gosto de 5% da população brasileira,
gosto de alguns poetas, alguns escritores, alguns músicos, alguns jornalistas,
alguns atores, alguns trabalhadores, alguns empregadores, alguns atletas,
alguns amigos, alguns parentes e só. Esse pequeno universo que me agrada no
Brasil é muito pouco, não é suficiente para formar um país, para moldar uma
sociedade honesta, decente, responsável, comprometida, informada, interessada,
que deseja para o país, e para si mesmos as mesmas coisas que eu desejo.
Se fôssemos todos ao menos um pouco parecidos com o que tenho como necessário
para viver em sociedade, o Brasil não seria o caos que é, o Brasil não seria o
descaso que é, o Brasil não seria violento, corrupto, ineficiente, desigual,
racista, preconceituoso, religioso, atrasado, sujo, escravista, aproveitador,
oportunista e pernicioso. E se a maioria do povo brasileiro não tiver algumas
dessas qualidades que citei, então a minoria má está vencendo, a minoria de
maus brasileiros está fazendo valer seus interesses há 5 séculos e os bons
estão apenas assistindo passivamente a destruição do que haveria de ser a
principal potência do planeta.
E se essa suposta maioria de bem está apenas assistindo, então não é tão boa
assim. É preguiçosa, indiferente, covarde, acomodada, impotente, incapaz de
fazer valer seus valores, seus interesses, e fazer uso da sua suposta maioria
para tornar o Brasil um país menos desumano. Se a maioria dos brasileiros não é
o que eu acredito que seja, onde estão os bons? Onde estão os honestos, os
capacitados, os homens e mulheres públicos e anônimos capazes de mudar esse
país?
Estão diluídos em meio a massa pois infelizmente não são a maioria. É por isso
que não paramos nos semáforos, não respeitamos datas, contratos, regras, leis,
normas. Não respeitamos a vida, o meio ambiente, o próximo. É por isso que
jogamos lixo nas ruas, furamos filas, falamos alto, matamos por dinheiro, por
prazer, por saber que somos impunes. É por isso que destruímos o bem público,
poluímos os rios, caçamos animais em extinção. É por isso que adicionamos água
no combustível, soda cáustica no leite, farinha nos remédios, areia no material
de construção, impostos aos impostos. É por isso que mantemos nosso povo
ignorante e o obrigamos a votar, para fingir que somos uma democracia.
Todos os dias nos deparamos com absurdos tidos como aceitáveis, ou inevitáveis
no nosso país. Nossos maus advogados nos impedem de fazer exame de sangue
quando matamos atropelados inocentes nas paradas de ônibus. Nossos maus
delegados nos deixam ir enquanto prendem ladrões de galinhas, nossos maus
juízes nos absolvem dos nossos crimes, nossos maus médicos dizem que não
podemos ser julgados porque não temos nossas faculdades mentais em pleno
exercício, nossos maus eleitores votam nos maus políticos e comemoram a vitória
sobre o adversário, como se ele fosse diferente do que acabamos de colocar no
poder.
A cada reflexão, a cada questionamento me dou conta que definitivamente o povo
brasileiro não é bom, não é acolhedor, não é amigo, não é parceiro, não é legal
como foi dito durante décadas. Criamos mais uma das tantas mentiras que se
tornaram verdade no nosso país. Mas a informação a toda hora, os twitters, as
redes sociais, estão nos mostrando aquilo que todos sabiam e muitos queriam
ignorar. Somos racistas, separatistas, preconceituosos, maquiavélicos em todos
os nossos atos. Até mesmo aqueles que admirava-mos por não os conhecer na
privacidade estão nos brindando com seu ódio pelos negros, pobres, nordestinos,
homossexuais, do sul, do norte... Mas ainda assim continuam ídolos, afinal
somos o país dos valores invertidos, onde o errado é o certo e o certo é
otário.
Sim, o povo brasileiro é mau e vai te mostrar isso na primeira oportunidade que
tiver de te passar a perna, de matar um turista, de trair um amigo, a esposa, o
parceiro de negócios o aliado político, o irmão. Não temos pudor, vergonha,
honra, medo, arrependimento. Não aceitamos crítica, não temos autocrítica, e
para nós justo é aquilo que nos faz bem, que nos dá vantagem em tudo. De fato
eu não gosto do povo brasileiro.
É duro, mas eu não gosto do povo brasileiro, não gosto do pornofunk, do
pornoaxé, do pornoforró, das novelas, das religiosidade bitolada, da sujeira,
das estradas esburacadas, dos aeroportos obsoletos, dos mortos nos corredores
dos hospitais, de cheiro de xixi nos centros das nossas cidades, do transporte
público inexistente, do bancos e seus juros criminosos, dos pobres e seu
coitadismo dos ricos e sua ostentação provinciana, das putas de luxo
apresentadoras de programas de TV, dos jogadores de futebol assassinos, dos
pagodeiros traficantes, dos bispos e suas isenções fiscais, dos parlamentares
mais caros do mundo, dos políticos e suas falácias, dos partidos e suas
quadrilhas, do machismo, das marias chuteiras, dos caçadores de holofotes...
O pior de tudo é que sou um deles, tenho provavelmente muitos dos defeitos que
critico nos meus conterrâneos, mas ao menos eu os tento combater.
Alguns tentarão justificar que outros povos são assim, que fulano e beltrano
também têm os mesmos defeitos como se isso fizesse de nós um povo menos
primitivo. Tentarão comparar o Brasil ao Sudão e dizer que estamos bem. Outros
me jurarão de morte, alguns me amaldiçoarão como se isso os tornasse mais
brasileiros. Outros em sua inocência dirão que temos praias lindas, mulheres
bonitas, rios e florestas, como se a obra da natureza fosse mérito do homem.
Mas a verdade é que se o brasileiro não fosse o que acabei de dizer, o Brasil
não seria o que é; pense nisso.
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