quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Reflexão: A eleição mais importante da história


 

A eleição mais importante no país desde a redemocratização em 1985

        A dois dias da decisão, talvez você ainda não tenha a idéia exata do que está em jogo nestas eleições, e as mudanças definitivas que iremos experimentar com um eventual 2º mandato de Bolsonaro. Sim! A diferença deste pleito para todos os que já vivemos antes, desde que recuperamos o direito de eleger o Presidente da República, é muito maior do que uma simples escolha entre dois candidatos, e por razões que se colocam além das muitas teorias conspiratórias que militantes dos dois lados levantam sobre o candidato contrário, seja qual for. 

        Mas antes de entrar no cerne dessas razões, queria falar especialmente àqueles entes queridos que se fizeram presentes nos últimos 20 anos, e que portanto sabem bem como consigo ser implacável quando aviltado em meus princípios mais sagrados por uma política sem escrúpulos, que não hesita em pisotear grande parte dos valores inalienáveis que construí ao longo de toda uma vida, muitas vezes contrariando expectativas dos que nos são caros.  Essas pessoas – conhecedoras do meu histórico bem mais do que do meu discurso – dispensam aqueles argumentos de retórica que eu precisaria reunir com os que não conheça tanto. Elas lembrarão minha trajetória de ferrenho e implacável combatente do partido que tenta agora voltar ao poder, na conturbada realidade política que experimentamos. Liberam-me portanto de todo esforço pra elaborar frases de impacto que visem convencê-las de qualquer coisa, já que a jornada percorrida nesses anos todos falam por si. 

        Possivelmente saberão separar os muitos equívocos cometidos ao longo de meu incansável combate, do abismo estrutural que depois se estabeleceu no país entre ricos e pobres, entre pessoas de pele branca e de pele negra, entre centros urbanizados e comunidades periféricas, ou entre habitantes das cidades e povos da floresta.  Elas também sabem de minha busca pela coerência entre pensamento, discurso e ação. 

        Isso no mínimo legitimaria a quebra de algumas regras que estabeleci para mim mesmo, como a de não usar redes sociais para repassar conteúdos com destino certo (via aplicativos de mensagens), por mais que acredite neles, devido a uma formação visceral e fortemente contrária ao “efeito manada”. O motivo, de novo, não poderia ser mais claro: essa prática abusiva e execrável aplicada às massas busca convencer em vez de levar informação; enquanto defendo com unhas e dentes o direito inalienável às próprias escolhas do indivíduo dotado de um cérebro minimamente racional. Tendo até aqui mantido essa  mesma linha de pensamento, peço perdão a todos por, pela primeira vez, cometer tal heresia contra meu sistema de crenças ao enviar um conteúdo por esse meio, baseado numa emergência que nos cobra celeridade:  o real e imimente risco da perda irreversível de conquistas obtidas ao longo de um século de avanço civilizatório desde a era Vargas.  Possivelmente o fim buscado me redime do desvio em relação à longa trajetória de busca por coerência, desvio esse necessário ao enfrentamento de algo que, caso não o possamos evitar, se revelará catastrófico e irrecuperável, malgrado esforços vindouros de políticos, cientistas, profissionais e demais cidadãos conscientes de todas as matizes. Ainda que dura, precisamos lidar com essa realidade e tomar a melhor decisão a tempo de evitá-la. E aqui estão os fatos que o justificam: 

AmazôniaO IPCC (International Panel for Climate Change) alertou a comunidade científica mundial que, se mantido o ritmo destes últimos 4 anos, a Amazônia precisará de um ano ou dois, no máximo, para cruzar o limite de desmatamento que permite reversão, o chamado “ponto de não-retorno”, que é quando entra em processo de  savanização. Nesse estágio interrompe-se o ciclo da cadeia alimentar que garante a sobrevivência de toda a biodiversidade mundial. Entenda-se com isso a não-sustentação da vida terrestre e marinha pela extinção dos “rios voadores” que carreiam umidade até as regiões mais remotas do país. Períodos de chuva que alimentam as lavouras serão cada vez mais raros, já que a agricultura do sul depende da umidade que chega da região amazônica. As queimadas dessas áreas interferem de forma decisiva em todo o ecossistema tanto do país quanto de todo o globo, e de forma cada vez mais acentuada. Um exemplo bem ilustrativo foi a “chuva” negra que atingiu São Paulo em 2019 e assustou a população com a precipitação de uma chuva carregada de cinzas e fuligem por conta das devastação produzida pelas queimadas na amazônia legal. (veja em https://www.youtube.com/watch?v=31EQzZ0sdro) 

Destruição gradual dos biomas que garantem a vida dos povos originários e sua cultura, pelo desmantelamento dos mecanismos de fiscalização, e um número cada vez maior de invasões de áreas indígenas para a prática de mineração ilegal e grilagem de terras. Além do risco explícito às populações diretamente envolvidas, a extração descontrolada do minério deixa como consequência altos teores de mercúrio que contaminam rios e nascentes, dando causa a uma brutal e irreversível destruição ambiental. 

Fim da universidade pública – A PEC 208, em tramitação na Câmara, prevê a instituição de mensalidade nas universidades públicas. Tal ação não apenas afeta o acesso dos mais pobres ao ensino superior, mas resulta em drástica redução de todo o desenvolvimento científico realizado hoje no país, já que 95% das pesquisas brasileiras são conduzidas por essas instituições de ensino superior. (Veja aqui: http://www.assufba.org.br/novo/governo-bolsonaro-quer-acabar-com-a-universidade-publica-pec-pretende-cobrar-mensalidade-nas-instituicoes/)   

Extinção do SUS – Extinção já anunciada pelo governo do sistema nacional de saúde pública como o conhecemos hoje (SUS) a ser substituido por um projeto de “vouchers” idealizado pelo ministro da economia Paulo Guedes, em que os empregados receberão de suas empresas, por ocasião de cada situação que requeira atendimento médico, um “vale-saúde” para apresentar em hospitais privados que decidirão o tipo de tratamento para seus casos (https://sintrajufe.org.br/ultimas-noticias-detalhe/fim-do-atendimento-publico-de-saude-esta-na-pec-32-artigo-da-reforma-administrativa-prova-que-sim-sai-sus-entram-vouchers-de-paulo-guedes/). Mas o prejuízo não se concentra apenas no modelo do serviço,  mas ao provável uso que se fará dele por políticos inescrupulosos. Sem contar um atendimento submetido a todo tipo de interferências e interesses escusos sendo levado à população por meio dos ditos “vouchers”. Ricardo Barros, o líder do governo na câmara, por exemplo, só não pôde usá-la a seu favor neste mandato graças à pandemia, que mostrou a importância do SUS à população, o que colocou um freio nos planos de sua extinção. A pergunta que fica é: o SUS suportaria mais 4 anos de Bolsonaro? Os fatos dizem que não, e a explicação é simples: defensor manifesto e intransigente dos “vouchers”, o homem de Bolsonaro na Câmara traz um histórico de negociatas envolvendo o setor da saúde, graças à sua rede de amigos muito próximos e donos – adivinhe! – de grandes redes hospitalares. Você fatalmente seria encaminhado para esses hospitais que ganhariam muito dinheiro com vouchers distribuidos em larga escala a pacientes que, em troca, receberiam um atendimento de baixa qualidade e nada confiável.   

Direitos trabalhistas – Fim do 13 salário e das férias remuneradas que a política bolsonarista já vem suprimindo em diferentes relações de trabalho em nome de um alardeado crescimento econômico com suposta “produtividade” de mercado (especialmente no caso de entregadores  e motoristas de aplicativo que proliferaram durante a pandemia). Neste caso específico a pandemia atuou como fator de incremento (nocivo) e não de barreira, como ocorreu no caso do SUS. 

Desvalorização crescente do salário mínimo, que deixou de ter correção real pela inflação ao longo dos quatro anos do governo Bolsonaro. Só a titulo de comparação, enquanto o governo petista elevou o salário em percentual próximo de 70%, o somatório dos anos de Bolsonaro no poder reduziram-no em quase 5% pela não fixação dos valores anuais pelos índices da inflação. (https://sintrajufe.org.br/ultimas-noticias-detalhe/para-2023-governo-estima-salario-minimo-sem-ganho-real-se-proposta-de-guedes-valesse-hoje-minimo-seria-de-r-502/) 

Aparelhamento do estado para aumentar o controle pelo governo – Desde o início do governo Bolsonaro aparelhou-se as instutuições de controle que ainda protegiam o cidadão, inclusive aqueles órgãos federais que poderiam evitá-lo, como Polícia Federal (que é um órgão de estado, e não de governo), IBAMA (que deveria fiscalizar e punir invasões de terra e comércio de madeira ilegal), empresas estatais, autarquias, etc. Correu mundo o caso do jornalista Dom Philips e do indigenista Bruno Pereira, assassinados em meados deste ano por conta desse favorecimento do governo às invasões de terras indígenas, grilagem e garimpos ilegais. (https://www.folhape.com.br/noticias/dom-phillips-e-bruno-pereira-um-fim-tragico-para-dois-amantes-da/230592/) 

Aparelhamento das Instituições Bolsonaro tem trabalhado para eliminar barreiras a medidas do executivo especialmente criadas para ampliar seu poder, comprando o apoio do Legislativo e enfraquecendo o Judiciário que impõe contenção às suas medidas antidemocráticas. Na prática –  e segundo expoentes políticos e analistas das causas sociais ao redor o mundo – o objetivo é implantar um regime autocrático sem oposição. (Veja aqui:  https://www.brasildefato.com.br/2022/08/17/o-bolsonarismo-e-o-aparelhamento-do-estado-desafios-da-luta-futura) 

Liberação maciça de armas – A política armamentista do governo aumentou exponencialmente a ocorrência de atos extremados como o praticado por Roberto Jefferson esta semana, criando um ambiente hostil e de permanente ameaça, além de supressão gradativa dos instrumentos de defesa do cidadão, deixando-o à mercê de decisões unilaterais do estado, além do aumento descontrolado de armas pesadas nas mãos de qualquer cidadão, que acabam dando força ao tráfico de drogas, às milícias, e ao crime organizado como um todo, acelerando o aumento da violência, e que escapou até mesmo ao controle do Exército  (Leia aqui: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2022/07/16/brasil-abriu-quase-um-clube-de-tiro-por-dia-sob-governo-bolsonaro.htm)                                                                                                           

Diferença salarial entre homens e mulheres – Bolsonaro defende que mulheres engravidam, e por isso não devem receber salários equiparados aos dos homens “já que dão prejuízo aos seus empregadores”. Para o atual presidente temos “direitos trabalhistas demais no Brasil", deixando claro que, dependendo dele, muitos desses direitos – conquistados a duras penas – serão extintos. (Veja aqui: https://revistacrescer.globo.com/Familia/Maes-e-Trabalho/noticia/2015/02/jair-bolsonaro-diz-que-mulher-deve-ganhar-salario-menor-porque-engravida.html). A tragédia da pandemia levada ao mundo conteve, por razões óbvias, muitas medidas planejadas por este governo para implementação nos dois últimos anos de seu mandato, aproveitando a porta escancarada pela Lava Jato. Várias delas, porém, já haviam sido encaminhadas para o Centrão, e teriam sido implementadas não fosse a ocorrência da pandemia, que atrasou tais planos. 

        A lista de todas as medidas que Bolsonaro planeja implementar de forma definitiva é grande demais para caber neste texto, portanto só me limitei àquelas mais prementes que precisam ser contidas por apontarem, inequivocamente, para um caminho sem volta, ou que dificilmente possam ser revertidas devido à complexidade implícita que demanda vários anos, talvez décadas, para que as recuperemos no todo ou em parte, isso na hipótese de sobrevivermos ao desmantelamento das instituições. 

        Enfim, restam dois dias para a decisão mais importante de nossas vidas nesses últimos 37 anos, e cabe só a você mudar o trajeto que nos conduz ao cadafalso ou aceitar o destino que se abaterá sobre nossas cabeças. E isso não tem relação com uma escolha aleatória por este ou aquele candidato, mas com as consequências a que estaremos todos sujeitos caso não o vejamos como uma ameaça real e factível, em vez de reduzir tudo – em ato de profundo egoísmo – a uma escolha de cunho meramente pessoal. Esta até se mostraria legítima num alegado caso de desconhecimento dos riscos envolvidos e da tragédia que se seguirá à substituição da consciência por um político de estimação, mas injustificável na troca do bem comum pela vantagem pessoal que só um deles nos parece oferecer. 

        Faltando entendimento dos efeitos de uma escolha catastrófica e seus múltiplos desdobramentos, é compreensível que ainda estejamos indecisos, ou propensos a invalidar o voto. Mas com a consciência despertada a partir de informações corretas e incontestáveis, a responsabilidade não diz mais respeito ao voto que atenda nossos interesses específicos, mas a todos aqueles que pagarão o preço de nossa escolha. E isso, para os mais conscientes, pode resultar num ônus cívico e moral muito acima do suportável! Que as energias do Cosmos então o ajudem a tomar a decisão mais correta para todos nós!

E caso considere este conteúdo relevante o suficiente para ser compartilhado, faça-o... Mas só se sua consciência assim o ditar!


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