Neste domingo,
30 de outubro, se encerra a mais suja e perigosa campanha eleitoral que o
Brasil registra em sua vacilante trajetória democrática.
O cansaço é nítido entre quem resiste. Desde eleito e antes mesmo de tomar
posse, Bolsonaro guia sua bússola obscena e sua máquina de ódio no
contraponto do republicanismo, na coação de princípios democráticos e na
insistente busca por fragilizar ou deformar instituições que poderiam
limitar seu campo de atuação em nome de um projeto personalista e
autoritário de poder. O expurgo, finalmente, virá. E da forma mais simples, bela e direta que uma
democracia prevê: o voto. E quem deu também tira.
A se confirmarem as pesquisas de intenção de voto, teremos um novo (velho)
governo pelos próximos quatro anos. O possível retorno de Lula, que assim
se tornará o primeiro presidente três vezes eleito na história deste país,
sinaliza a necessidade da imprensa, sobretudo livre e independente, de
manter rígida a fiscalização dos atos de poder.
O compromisso do petista é de não repetir erros que marcaram profundamente
sua gestão e a de sua sucessora, Dilma Rousseff. Urgentemente, ele vai
precisar restabelecer o pacto de equilíbrio entre os poderes, celebrado
pela tão atacada Constituição de 1988, interrompendo as barganhas orçamentárias ao Congresso, os ataques ao
Supremo e destituindo a política fisiologista entre partidos e protegidos no Executivo.
No entanto, para além dos corredores do poder em Brasília, há uma explícita
necessidade e um clamor de encontro com o Brasil real e seus reais
problemas — léguas distante de mamadeiras de piroca, ideologia de gênero,
cloroquina, entre tantas outras quimeras forçadamente trazidas às salas de
jantar dos brasileiros num momento em que faltou justamente janta, comida, saúde e estado.
Há uma necessidade de discutir segurança pública de forma séria e
responsável, interrompendo os genocídios em favelas e espaços periféricos
para atender a uma política de combate às drogas que se mostra
completamente esgotada e falida. Na questão ambiental, a Amazônia arde em
chamas, enquanto os aparelhados órgãos federais vendam seus olhos para a grilagem de
terra, a derrubada ilegal de madeira e o avanço indiscriminado
da monocultura da soja e da criação de gado.
Existe um país enlutado, que literalmente sai menor da pandemia. São quase
700 mil pessoas a menos, mortas pelo descaso, com suas memórias humilhadas pelo
escárnio de quem fez troça da asfixia e pouco caso da ciência.
O empenho de todos os órgãos de imprensa
comprometidos com a democracia é de cobrar de forma contundente o
enfrentamento dessas questões, jogando luz nas contradições que pontuarão o
novo governo, forjado numa enorme aliança multipartidária, com interesses
díspares e muitas (muitas) vezes contraditórios. Esse é o provável governo que nasce domingo das urnas.
O primeiro compromisso, porém, é efetivamente fazer valer esse nascedouro.
Mostrar, constranger e vigiar qualquer sanha golpista ou farsa armada que tente melar o
resultado das eleições, com narrativas ensaiadas há meses por quem sabe que
foi derrotado no princípio básico de convencer o eleitor, soberano na
escolha.
Não existe "terceiro turno" e nem "adiamento". A
eleição no Brasil precisa terminar neste domingo, porque é o dia
previamente determinado pela Constituição. Qualquer coisa diferente disso
tem nome: é golpe. Qualquer movimento contestatório é blefe e aposta no
caos de quem anseia lucrar com a plena desordem social.
A eleição termina no dia 30 de outubro porque o Brasil tem urgência em sua
reconstrução e não pode assistir paralisado aos caprichos e perversões de um
presidente que, nunca, em um só dia como governante, teve respeito ao cargo
e aos milhões de brasileiros que representou.
As eleições mais longas e sujas da história democrática do Brasil terminam
neste domingo, ao custo de vidas que se foram, traumas não curados e um
país em frangalhos, mas suficientemente capaz de se levantar.
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