Ediel Ribeiro: O Capitólio de Jair Bolsonaro
O Capitólio de Jair Bolsonaro
Colunista do DIÁRIO
DO RIO fala sobre o fim do governo do presidente e os protestos dos
manifestantes
Por Ediel Ribeiro - 6 de novembro de 2022
Quando o Secretário de Comunicação chegou no Palácio do Alvorada com o discurso do presidente embaixo do braço, Jair Bolsonaro ainda estava trancado no banheiro, chorando.
– Presidente, o senhor precisa sair daí. A eleição já acabou. O senhor está trancado no banheiro há dois dias. Os brasileiros estão esperando o seu pronunciamento à Nação. O senhor ainda é o presidente do país. As ruas estão um caos.
– O ex-presidiário já foi?
– Já. Pode sair. A eleição acabou. Seus
amigos do Centrão estão todos aqui para apoiá-lo.
– Eu não vou fazer nenhum
pronunciamento, taokey. Não vou reconhecer uma eleição manipulada e
fraudulenta, taokey. Eu só perdi porque os nordestinos, analfabetos, não
conseguiam ler ‘Bolsonaro’ na urna, então, votaram ‘Lula’ que é um nome mais
fácil de ler.
– Enquanto o senhor chora a derrota,
seus apoiadores estão bloqueando nossas principais rodovias, levando o caos e a
desordem ao país. Os bloqueios já estão indo para o terceiro dia, com
manifestantes prometendo manter as interdições por tempo indeterminado.
– As movimentações pacíficas sempre
serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser o da esquerda, que sempre
prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de
patrimônios e cerceamento do direito de ir e vir – disse o presidente.
– Presidente, já está havendo
destruição de patrimônio, cerceamento do direito de ir e vir e prejuízo no
abastecimento de alimentos e combustíveis. O senhor precisa ordenar
explicitamente a desmobilização de bloqueios de rodovias, feitos por seus
apoiadores que contestam, sem provas, o resultado das urnas e pedem um golpe.
– Isso daê já é outra cuestão, taokey.
– Já estou aqui com o seu discurso.
Quer que eu leia para o senhor? É bem curto.
– Taokey.
– “Quero começar agradecendo
primeiramente aos 58 milhões de brasileiros que votaram em mim no último dia 30
de outubro. Quero também parabenizar o candidato Luiz Inácio Lula da Silva pela
vitória alcançada, democraticamente, nas últimas eleições. Dizer também que os
atuais movimentos populares frutos de indignação e sentimento de injustiça de
como se deu o processo eleitoral, ou não, devem ser dispersados imediatamente.
As rodovias devem ser desbloqueadas e o direito de ir e vir da população
respeitado…”
– Pode parar – cortou o presidente. –
Nada disso daê. Zero! No tocante ao agradecimento ao gado, digo, aos eleitores
que votaram em mim, tudo bem. Posso até agradecer, mas reconhecer a vitória do
ex-presidiário, não. Não reconheço nem vou passar a faixa para ele. Se o
Mourão, aquele traidor, quiser passar é problema dele. Só Deus tira essa faixa
do meu peito…
– Ele já tirou – sussurrou o secretário, irônico. – Em grupos nas redes sociais, o seu silêncio foi interpretado como um apoio às mobilizações golpistas.
– Sempre joguei dentro das 4 linhas da Constituição. Nunca falei em controlar a mídia e as redes sociais mas não posso impedir o povo de transitar lépido e fagueiro pelas rodovias do país.
– O povo está decepcionado com o
senhor.
– Vão sentir saudades da gente aqui –
gemeu o presidente.
– Já estamos sentindo – disse Ciro
Nogueira, líder do Centrão.
*Ediel Ribeiro é jornalista e escritor.
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