segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Ediel Ribeiro: O Capitólio de Jair Bolsonaro

 

O Capitólio de Jair Bolsonaro

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre o fim do governo do presidente e os protestos dos manifestantes

Por Ediel Ribeiro  -  6 de novembro de 2022

Quando o Secretário de Comunicação chegou no Palácio do Alvorada com o discurso do presidente embaixo do braço, Jair Bolsonaro ainda estava trancado no banheiro, chorando. 

– Presidente, o senhor precisa sair daí. A eleição já acabou. O senhor está trancado no banheiro há dois dias. Os brasileiros estão esperando o seu pronunciamento à Nação. O senhor ainda é o presidente do país. As ruas estão um caos. 

– O ex-presidiário já foi?

– Já. Pode sair. A eleição acabou. Seus amigos do Centrão estão todos aqui para apoiá-lo.

– Eu não vou fazer nenhum pronunciamento, taokey. Não vou reconhecer uma eleição manipulada e fraudulenta, taokey. Eu só perdi porque os nordestinos, analfabetos, não conseguiam ler ‘Bolsonaro’ na urna, então, votaram ‘Lula’ que é um nome mais fácil de ler.

– Enquanto o senhor chora a derrota, seus apoiadores estão bloqueando nossas principais rodovias, levando o caos e a desordem ao país. Os bloqueios já estão indo para o terceiro dia, com manifestantes prometendo manter as interdições por tempo indeterminado.

– As movimentações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser o da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônios e cerceamento do direito de ir e vir – disse o presidente.

– Presidente, já está havendo destruição de patrimônio, cerceamento do direito de ir e vir e prejuízo no abastecimento de alimentos e combustíveis. O senhor precisa ordenar explicitamente a desmobilização de bloqueios de rodovias, feitos por seus apoiadores que contestam, sem provas, o resultado das urnas e pedem um golpe.

– Isso daê já é outra cuestão, taokey.

– Já estou aqui com o seu discurso. Quer que eu leia para o senhor? É bem curto.

– Taokey.

– “Quero começar agradecendo primeiramente aos 58 milhões de brasileiros que votaram em mim no último dia 30 de outubro. Quero também parabenizar o candidato Luiz Inácio Lula da Silva pela vitória alcançada, democraticamente, nas últimas eleições. Dizer também que os atuais movimentos populares frutos de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral, ou não, devem ser dispersados imediatamente. As rodovias devem ser desbloqueadas e o direito de ir e vir da população respeitado…”

– Pode parar – cortou o presidente. – Nada disso daê. Zero! No tocante ao agradecimento ao gado, digo, aos eleitores que votaram em mim, tudo bem. Posso até agradecer, mas reconhecer a vitória do ex-presidiário, não. Não reconheço nem vou passar a faixa para ele. Se o Mourão, aquele traidor, quiser passar é problema dele. Só Deus tira essa faixa do meu peito…

– Ele já tirou – sussurrou o secretário, irônico. – Em grupos nas redes sociais, o seu silêncio foi interpretado como um apoio às mobilizações golpistas.

– Sempre joguei dentro das 4 linhas da Constituição. Nunca falei em controlar a mídia e as redes sociais mas não posso impedir o povo de transitar lépido e fagueiro pelas rodovias do país.

– O povo está decepcionado com o senhor.

– Vão sentir saudades da gente aqui – gemeu o presidente.

– Já estamos sentindo – disse Ciro Nogueira, líder do Centrão.

 

*Ediel Ribeiro é jornalista e escritor.

 

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial