terça-feira, 15 de novembro de 2022

A Corrupção de um governo depende só do critério usado na medição?

 







 

Ao contrário de grande parte dos bolsonaristas, a imensa maioria dos eleitores do PT não alimenta ilusões sobre Lula ser "o redentor da pátria", quase divino de tão impoluto e infalível, e "oponente do sistema" (aliás, será que isso é mesmo tão bom assim? Seria bom combater o sistema vigente em tudo, inclusive na Constituição, na democracia, nos direitos civis já conquistados e garantidos?). Então, os petistas e demais eleitores da chapa Lula/Alckmin não alimentam fantasias sobre a existência de um governo que nem sequer precisa ser fiscalizado e investigado rigorosa e rotineiramente, porque "não tem corrupção".

A maioria simplesmente considera que, no nível de desenvolvimento, moralidade, civilização e maturidade institucional em que o Brasil se encontra, é basicamente impossível fazer um governo em que a corrupção não aconteça em algum momento por agentes do grupo que ocupa o poder (se nem os países mais avançados como Reino Unido e Alemanha conseguiram eliminá-la!), então o foco deles está mais no respeito a limites entre o Executivo e os órgãos que contrabalançam o poder do executivo e controlam seus excessos e malfeitos, como Judiciário, Ministério Público, Tribunais de Contas e Polícia Federal.

É uma postura, convenhamos, bem mais realista e, principalmente, factível do que a fantasia ingênua de que há um "governo sem corrupção", principalmente se alguns dos principais aliados dessa gestão envolvam nomes como Fernando Collor, Arthur Lira, Ciro Nogueira, Roberto Jefferson e Valdemar Costa Netto, e, acima de tudo, se a base governista for formada pelo PL (praticamente o núcleo do Mensação), PTB (pivô do Mensalão e envolvido no Petrolão) e PP (o principal investigado pela Lava Jato — pois é, não foi o PT).

Além disso, os eleitores de Lula – que não engolem todo dia doses cavalares de propaganda ideológica pró-governo – estão bem cientes de que, longe de haver uma melhora, o Brasil teve foi uma significativa piora nos rankings de percepção de corrupção e transparência governamental nos últimos anos, o que sugere que, muito mais do que "um governo que é intransigente com os corruptos", o que houve na Era Bolsonaro foi um governo pautado no ditado "longe dos olhos, longe do coração", em sua versão política "não existe corrupção para o povo se não há investigação nem punição". Simples assim.

Posição do Brasil no ranking global da corrupção da Transparência Internacional.


O governo Bolsonaro foi bem mais, digamos, competente em pelo menos uma coisa: na tarefa de enganar pessoas pela tática espertalhona de "legalizar o que é imoral" e "normalizar a corrupção", como se viu, de forma mais acachapante, no Orçamento Secreto, que cumpriu a função do Mensação com muito mais eficácia e envolvendo valores escandalosamente maiores, tudo com uma aparência de legalidade.

Então, acredito que o eleitor médio de Lula simplesmente pensa que, se não melhorar a situação da corrupção com a derrubada das  raposas colocadas para cuidar do galinheiro (em órgãos de fiscalização e controle), como PGR, PF, Abin, Ibama e Funai, ela vai continuar, na melhor das hipótese, igual — mas com a vantagem de que, provavelmente, o povo vai ter devolvido o seu direito de ficar revoltado com escândalos de corrupção e operações contra criminosos da politicagem, pois eles só acontecem onde a corrupção SISTÊMICA está sendo de fato coibida e posta contra a parede.

Quem não gosta dessas notícias indignantes nos telejornais e revistasdeveria, simplesmente, ir passar um tempo relaxando na Coreia do Norte, Arábia Saudita ou Turcomenistão. Garanto que por lá os órgãos de Estado e da imprensa não têm autonomia e estofo suficientes para fazer essas revelações bombásticas.

 



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