sábado, 16 de setembro de 2023

Pontevedra - A cidade onde os pulmões são felizes




A capital da Galícia, Pontevedra, é uma cidade de 84 mil habitantes situada a noroeste da Espanha. Em 1999, quando Miguel Anxo Fernandez Lores tornou-se prefeito de lá teve de enfrentar uma série de desafios: o município sofria com a má qualidade do ar, o êxodo de famílias jovens e uma economia local em crise.  Saiba mais...

terça-feira, 29 de agosto de 2023

FATOS & FOTOS que marcaram a história

 




sábado, 26 de agosto de 2023

Por que o bolsonarismo virou regra entre os evangélicos?

  

Observando mais de perto, a adesão de evangélicos ao bolsonarismo não é casual, e muito menos meramente circunstancial. A quantidade deles que optou por seguir os passos de Bolsonaro se deve a algo bem mais complexo do que uma aproximação pura e simples, mas de fusão por osmose. Traduzindo, não se trata de uma questão de convencimento massivo por meio da técnica que nos acostumamos a chamar de “lavagem cerebral”, mas de uma identidade estrutural e profunda pelo aspecto conceitual, sociológico, cultural, psicológico, ideológico e doutrinário em dimensão visceral e indelével, e não apenas superficial como acontece com aquelas coisas que nos despertam paixão em algum momento, e aos poucos vão se dissipando pelo efeito do tempo. 

Essa característica empresta ao fato um caráter ainda mais assustador, pois derruba a tese de que se trate de um fenômeno contextual decorrente da recente chegada da extrema direita ao poder, e se manteve circunstancialmente sob holofotes por atrair a atenção do país inteiro – e também do mundo –  para suas movimentações. Quando se fala em “fenômeno” entendemos tratar-se de algo eventual, com início, meio e fim, malgrado uma origem desconhecida e término imprevisível. Mas a característica mais evidente é a de que, em algum momento, ele cessa. A má notícia, neste caso específico, para aquelas pessoas que adotam a moderação e o equilíbrio como modelo de vida, é descobrir que ele não irá passar, como se pensava no início. E a razão disso é que o “fenômeno”, tecnicamente falando, se resumiu aos fatores que lhe deram causa –  incluindo um momento político de muita tensão e incertezas – mas não ao modelo que observamos hoje como parte integrante e indissociável do nosso cotidiano. 

Dessa abordagem, porém, trataremos mais à frente. Vamos agora nos concentrar naquela identidade estrutural que, antes do “efeito bolsonaro”, estava distribuída entre “bolsonaristas” e “evangélicos”, e até então tidos como coisas distintas. Já há algum tempo essa fronteira deixou de existir, e o que percebemos agora é uma massa compacta e uniforme de característica única em substância, pensamento e modus-operandi.   

A expressão usada para descrever essa uniformidade atingida entre bolsonaristas e evangélicos, a que chamei de “fusão por osmose”, para transformá-lo numa única massa de pessoas pensando exatamente da mesma forma e em todos aqueles aspectos mencionados, é perfeitamente visível quando listamos suas características, que justificam a expressão pejorativa de “gado” para descrever um comportamento “em bloco” desprovido do pensamento lógico e consistente, qualidade inerente a indivíduos que não admitem ser conduzidos pelo chamado “efeito-manada”. 

Embora alguns defendam que os evangélicos foram aliciados por um discurso conservador, mas claramente falso, que se aproximava dos objetivos deles – Deus, Pátria e Família – eu tendo a acreditar que não houve uma mudança real por parte desse grupo. Pelo menos a parte deles que se aliou – ou se fundiu – ao bolsonarismo, sempre pensou, falou e agiu em consonância com as premissas da ideologia, antes mesmo dela tomar o formato que assumiu no contexto da extrema-direita.  A parcela evangélica que não aderiu, em algum momento pode até ter sido seduzida pelo discurso usado como ardil, mas sua natureza focada em crenças legítimas e destituídas de interesses pessoais lhe mostrou que algo estava errado, e a fez repensar. Com isso vacinaram-se contra tudo o que que ainda viria, e que agora podem confirmar. 

Quanto aos evangélicos que a extrema direita nos revelou, inúmeros pontos em comum se estabeleceram entre eles e o conservadorismo representado pelo bolsonarismo emergente. Como principal característica, deixaram explícita sua recusa  em aceitar argumentos lógicos e comprováveis que contradizem crenças arraigadas e sem qualquer consistência; mas também derivou numa sequência de fatores complexos e interligados entre si, algumas das quais passo a descrever com o máximo de detalhes possível: 

Viés de confirmação por inclusão: As pessoas têm a tendência de buscar informações que confirmem suas pseudo verdades e crenças preexistentes (reais ou não) para rejeitar as que as contradizem, por mais consistentes e respaldadas que se mostrem na prática do cotidiano. Isso pode resultar numa escolha seletiva de informações que reforçam tanto as crenças quanto a recusa em considerar evidências contrárias. Evangélicos podem utilizar  a bíblia para esse efeito, políticos a Constituição, ou outros dispositivos legais. Em ambos os casos eles criam narrativas em cima de interpretações deturpadas desses instrumentos, seja por dificuldade cognitiva real ou por interesse na sustentação usada para se sobrepor às ideias de outrem. 

Viés de confirmação por exclusão:  As pessoas podem buscar respaldo para suas crenças fazendo uso de premissas forjadas ou inexistentes. Ao usar a bíblia ou a Constituição como fundamento, por exemplo, elas irão desconsiderar os versículos ou artigos dos dois instrumentos que se contraponham àquilo que tentam impor como a verdade a ser aceita. Em suma, elas criam uma versão dos fatos à sua própria imagem e semelhança, como se os dispositivos que os contradigam não existissem, e os elementos a favor ou contrários não estivessem ao seu alcance. 

Dissonância Cognitiva: Aceitar evidências contrárias às crenças arraigadas pode causar profundo desconforto psicológico nessas pessoas, o que pode se transformar num sentimento devastador de ódio e revolta contra quem as contrarie. Na tentativa de evitar esse desconforto elas tendem a ignorar ou rejeitar qualquer informação que entre em conflito com suas crenças construídas, independente de evidências ou até de provas concretas que as refutem. Ambos os grupos atuam de forma igual, onde as redes sociais atualmente desempenham um papel fundamental nas ações de disseminação de mensagens de viés dogmático ou doutrinário com as quais reafirmam suas teses de forma invasiva, sistemática, e à revelia de seus destinatários, sem respeitar-lhes as ideias, crenças, ou quaisquer outras características diferentes das suas. Pela parte dos evangélicos, eles acreditam “estar salvando” pessoas do inferno pela “disseminação da Palavra”, e por parte dos ideólogos políticos, buscam carrear mais pessoas – notadamente as mal-informadas – para suas correntes políticas focadas em poder, mesmo na ausência de qualquer proposta voltada para o bem coletivo.  

Identidade e Pertencimento: Crenças arraigadas – sejam religiosas ou políticas – constantemente vêm ligadas à identidade pessoal e ao senso de pertencimento a um grupo social, facilmente perceptível no tratamento entre seus membros. Pelo viés religioso estes se tratam por “irmãos”, “escolhidos”, ou “pessoas de Deus”. Pelo viés político, eles adotam denominações próprias e símbolos que remetem ao seu reduto de apoiadores. Não raramente se apropriam de símbolos nacionais na tentativa de legitimar sua imagem construída de um “lado certo” combatendo o mal, e neste quesito a política não se difere em nada das religiões. O ponto comum é que aceitar argumentos contrários pode ameaçar essa identidade e o sentido de pertencimento, o que leva as pessoas a uma resistência ferrenha a mudanças em suas crenças, e se voltar contra qualquer esforço externo de lhes mostrar que estão sendo manipuladas. 

Medo de Incerteza: Mudar crenças arraigadas pode levar a um estado de incerteza e medo do desconhecido. Algumas pessoas preferem manter suas crenças, mesmo que inconsistentes e ilógicas, em vez de enfrentar a incerteza que acompanha a mudança de perspectiva. Por isso criam uma longa e complexa lista de justificativas para afirmá-la, de modo a não ficarem vulneráveis diante dos que duvidem dela. Neste quesito tanto o grupo político quanto o evangélico seguem exatamente o mesmo modus-operandi, já que compartilham os mesmos medos em relação aos adversários, sempre tratados como uma guerra entre o bem e o mal.  

Efeito Backfire: Apresentar evidências contrárias pode, paradoxalmente, fazer com que as pessoas se apeguem ainda mais às suas crenças, em um fenômeno conhecido como "efeito backfire" ou “tiro pela culatra”. Quanto mais se tente demovê-las de uma ideia, mas se sentem  desafiadas a defender suas crenças com mais veemência do que antes. Há alguns anos esse tipo de ação se tornou popular nos EUA como “efeito Streisand”, que é quando o resultado obtido é totalmente inverso ao que se buscava. Nisso a política partidária e os grupos religiosos não apresentam qualquer diferença. 

Influência do Grupo: As opiniões do grupo ao qual uma pessoa pertence podem exercer uma pressão tão forte que se transforma em barreira intransponível para que a pessoa enxergue as inconsistências e fragilidades de suas crenças. O medo de ser excluído ou rejeitado pelo grupo pode levar alguém a ignorar quaisquer evidências contrárias simplesmente para favorecer o seu grupo, mesmo consciente de que as crenças defendidas por ele não se sustentam. E não é para menos: é comum que se sintam amedrontadas pela ideia da rejeição, ou até perseguidas depois de uma decisão que ameace a unidade do grupo, e isso vale tanto para a política, para o meio religioso, ou qualquer outro grupo que se reúna em torno de uma crença, conceito ou premissa do qual dependa sua manutenção, o que não exclui nem os grupos familiares.  

Dificuldade de Mudança: Mudar crenças profundamente enraizadas requer esforço cognitivo e emocional. Algumas pessoas podem achar difícil reconhecer que estiveram equivocadas, ou que as crenças defendidas por seu grupo se mostraram inconsistentes, o que pode dificultar a aceitação de novos argumentos que se lhes apresentem revelando a verdade dos fatos. 

Emoções e Percepções: As emoções e percepções pessoais muitas vezes desempenham um papel mais influente em nossas decisões do que a lógica pura. Mesmo que um argumento seja logicamente válido, se ele não ressoar emocionalmente é mais provável que seja rejeitado, e isso não significa, necessariamente, que seja uma questão de caráter ou de má-índole, mas tão somente de insegurança e apego àquilo que deixa as pessoas mais seguras. Conhecer a verdade dos fatos e negá-los não é tão simples quanto “decidir pelo lado certo”, para uma esmagadora maioria de pessoas, e isso se justificaria porque, diante de evidências incontestáveis, elas seguem apegadas às antigas crenças, ao seu grupo de origem, ou aos seus líderes, por piores e indefensáveis que se mostrem os mal-feitos deles. 

A primeira coisa a extrair desta questão é que as pessoas necessariamente não permanecem num determinado grupo porque querem continuar afrontando os contrários, e nem porque acreditam estar do lado certo: fazem-no simplesmente porque têm medo do que acontecerá a partir de sua decisão de se afastar. A pressão que sentem por estar onde estão lhes parece muito mais fácil de suportar do que desistir do espaço já conquistado, apenas por terem se acostumado a lidar com ela. O medo do que poderá sobrevir com a mudança pode ser muito maior, e isso as impede de tomar uma decisão mesmo que desejassem fazê-lo. Daí porque condená-las pode se mostrar injusto e até cruel, pois no máximo são pessoas fracas e inseguras frente à vida, mas não necessariamente “mau-caráter”, como alguns insistem em acreditar. 

É importante reconhecer que a resistência a argumentos lógicos não é exclusiva de um grupo específico de pessoas ou de um conjunto particular de crenças. Todos estamos suscetíveis a esses fatores psicológicos em diferentes graus, já que existem muitos fatores subjetivos envolvidos e toda uma complexidade de interpretações para justificar a permanência em qualquer dos lados. É claro que, instintivamente, nossa escolha deverá recair sobre aquela lógica majoritariamente aceita, focada em ética e discernimento quanto ao justo, e da percepção sistêmica em relação ao benefício coletivo. Só que todas essas premissas também sofrem influências decorrentes da moral vigente, e das regras que regem o contexto social onde tudo se insere.  

Parodiando Nelson Rodrigues – quando sustentou que toda unanimidade é burra – faz-se necessário lembrar que não há regra sem exceção. Chamo atenção, portanto, que nas vezes em que se leu “evangélicos” ao longo deste texto não estivemos falando daqueles grupos religiosos com que nos acostumamos a conviver até 2018 – que tratavam religião como religião – mas desses a que fomos apresentados depois, que a transformaram numa forma de prostituir a política como um fim em si mesmo, em lugar do tão buscado meio de nos tornar melhores. 

Existem, sim, evangélicos que seguem sendo evangélicos, na verdadeira acepção da palavra, e não apenas esses que usam a denominação como um escudo para disfarçar a natureza que sempre lhes foi inerente, ainda que não o tivessem expressado até aqui.  Mas, infelizmente, esses hoje são minoria diante da horda de “evangélicos” que trocaram a divindade metafísica que afirmavam venerar por outra bem mais concreta e “palpável” em seu sentido mais literal, que acabou por convertê-los de “crentes” em “seguidores”.  

Em relação a esse grupo que se manteve fiel às suas raizes espirituais por estar concentrado em sua busca e distante do embate político, meu sentimento é de que são tão vítimas quanto as pessoas que preservaram seu equilíbrio e visão de mundo, passando ao largo do que veio depois. Até mais do que estas, talvez, pois que ganharam uma espada maior pendendo sobre suas cabeças, até que novos tempos consigam transformar toda essa tragédia em passado, e de novo possam voltar a se apresentar como evangélicos sem medo do desprezo e do ressentimento que seus pretensos “irmãos”  lhes legaram, sob o manto de uma falsa unidade de fé.  

Há que se considerar portanto que, a rigor, o fardo que irão carregar se mostre ainda mais pesado que o de todo o restante da população, pois que a pecha de “bolsonaristas”, plena de conotações das mais indígnas e pejorativas, os irá acompanhar ainda por muito tempo, a exemplo do antisemitismo que permanece vívo séculos depois de criado, e ainda dá causa a conflitos e sofrimento para milhões de pessoas mundo afora. Possivelmente por muito tempo ainda terão que vivenciar uma diáspora  por que nenhum cristão ou praticante de qualquer outra religião mereceria passar, por suas igrejas se terem transformado em verdadeiras fontes de desinformação ou redutos de manipuladores disfarçados de líderes religiosos.  

E quanto a todos os demais que se mantiveram lúcidos para perceber a tragédia social em que estivemos envolvidos nestes últimos anos, o importante é ter em mente que ela nos introduziu uma nova era em que “a guerra do bem contra o mal” não vai acabar com a saída de Bolsonaro do cenário político. Seus seguidores, representados pela extrema-direita mundial, foi introduzida no país – como dito no início – de forma indelével e permanente, restando-nos apenas descobrir formas de lidar com ela para que não nos pegue tão desprevenidos e vulneráveis quanto estivemos quando ela ocupou o espaço que nos foi sonegado em algum momento.  A batalha vai ser dura, mas, como sempre acontece, descobriremos a forma de resistência que mais se adeque a esse gigantesco desafio... e acredite:  sobreviveremos!


sexta-feira, 18 de agosto de 2023

A HORA DA VERDADE - G1 18.08.2023

 




Após decidir que vai admitir a venda de joias a mando do presidente Jair Bolsonaro (PL), o ex-ajudante de ordens Mauro Cid afirmou a interlocutores que "agora, é a hora de proteger a minha família".

Ver a família sendo alvo de investigações da Polícia Federal (PF) foi determinante para que Cid tomasse a decisão de confessar que vendeu as joias recebidas como presentes ao governo brasileiro e admitir que entregou o dinheiro a Bolsonaro. O pai de Cid, Mauro Cesar Lorena Cid, foi alvo de um mandado de busca e apreensão no dia 11 de agosto, durante uma operação da Polícia Federal.


Lorena Cid é general do Exército e foi colega de Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), nos anos 1970. Segundo as investigações, ele é suspeito de negociar as joias e outros bens nos Estados Unidos. Ainda de acordo com a PF, o militar recebeu o dinheiro da venda das joias e relógios em uma conta que tinha nos Estados Unidos.




Cid filho vai falar


Na noite desta quinta-feira (17), o advogado de Mauro Cid, Cezar Bittencourt, afirmou que o ex-ajudante de ordens vai dizer que entregou dinheiro a Bolsonaro após vender nos Estados Unidos joias que foram dadas como presentes ao governo brasileiro.



A informação foi revelada pela "Veja" e confirmada pela TV Globo. Preso desde maio, Cid era um dos principais homens de confiança de Bolsonaro ao longo do mandato na Presidência. De acordo com o Tribunal de Contas da União, os presentes recebidos deveriam ser incorporados ao acervo da União, e não vendidos como itens pessoais. Bittencourt assumiu a defesa de Cid na terça-feira (15). Ele é o terceiro advogado do caso desde que Cid foi preso. Bittencourt, em entrevista à GloboNews nesta semana, já havia dito que Cid apenas cumpria ordens.


As joias


Investigações da Polícia Federal mostram que joias e presentes entregues a Jair Bolsonaro no exercício do mandato de presidente começaram a ser negociados nos Estados Unidos em junho de 2022.

Naquele mês, a equipe de Mauro Cid solicitou ao Gabinete de Documentação Histórica a lista dos relógios recebidos de presente pela Presidência até aquele ponto do mandato do então presidente.

No dia 2 de junho de 2022, outro ajudante de ordens recebeu a lista de 37 itens com os dados dos fabricantes de cada um, como solicitado por Cid.

Quatro dias depois, Cid retirou do acervo um kit de joias — composto por um relógio da marca Rolex de ouro branco, um anel, abotoaduras e um rosário islâmico — entregue a Bolsonaro em uma viagem oficial à Arábia Saudita em outubro de 2019.


No dia 8 de junho de 2022, Bolsonaro e Cid viajaram aos Estados Unidos para participar da Cúpula das Américas, em Los Angeles. Segundo a Polícia Federal, Mauro Cid levou, no voo oficial da FAB, o kit de joias. Os investigadores afirmaram que ele não voltou para o Brasil com a comitiva e que levou as joias para a casa do pai, Mauro Cesar Lourena Cid — que ocupava, desde 2019, um cargo no escritório da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), em Miami.


No dia 13 de junho de 2022, Mauro Cid viajou para a Pensilvânia para vender o relógio Rolex de ouro branco e outro relógio da marca Patek Philippe. A PF localizou, a partir da análise de dados armazenados na nuvem do celular de Mauro Cid, um comprovante de depósito da loja no valor de US$ 68 mil nessa mesma data. Esse valor corresponde a R$ 332 mil.


Um relatório do Coaf, enviado à CPI dos Atos Golpistas e obtido pelo g1, apontou transações financeiras consideradas atípicas nas contas de Lourena Cid. O relatório destaca que, de fevereiro de 2022 a maio de 2023, ele movimentou quase R$ 4 milhões — entre valores recebidos e enviados.


Fonte:  Blog da Natuza Nery - G1


sábado, 12 de agosto de 2023

Participação de militares no governo - Um debate necessário

 


O desastre da participação política de militares no governo Bolsonaro suscitou um debate que precisa ocupar amplo espaço na sociedade civil, por se tratar de questão complexa envolvendo diversos aspectos políticos, legais e institucionais. 

Em muitos países, a separação entre as esferas civil e militar é uma parte fundamental da democracia e do estado de direito. Permitir que militares da ativa participem diretamente do governo pode comprometer essa separação e criar um ambiente onde a linha entre as instituições militares e civis se torne tênue o bastante para ameaçar a estabilidade política e a democracia em si. 

Uma regra desse tipo poderia ser vista como uma ameaça à civilidade das instituições militares – que historicamente têm como princípio a subordinação ao poder civil – além de que, como ficou exposto no governo findo,  o envolvimento de militares da ativa no governo tem potencial explosivo para criar dilemas éticos e conflitos de interesse, uma vez que cabe aos militares a responsabilidade primordial de garantir a segurança e a estabilidade do país, papel esse que poderia ser comprometido se estiverem simultaneamente envolvidos em decisões políticas. 

A maioria dos países democráticos possui leis e regulamentos que regulam a relação entre o poder civil e o militar, geralmente com o objetivo de deixar bem visível a separação de funções e responsabilidades. A alteração dessas leis exigiria uma mudança legal ou até constitucional, devendo ser objeto de debates intensos na sociedade e nos órgãos legislativos. Mas não resta dúvida de que esse debate precisa ser feito de modo a propiciar uma análise cuidadosa de suas implicações para a democracia e a estabilidade do país. 

A experiência vivida nesses últimos 4 anos do governo Bolsonaro passam uma mensagem clara de que não dá para continuar tratando esse assunto de forma periférica e superficial, muito menos ignorando sua importância de modo a continuar sendo empurrado com a barriga para os próximos governos.


sexta-feira, 21 de julho de 2023

Um brinde a você!

 


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quinta-feira, 20 de julho de 2023

Jean Willys, Eduardo Leite e a fronteira dos lados

 UOL: A contenda entre Jean Willys e Eduardo Leite



Já começou mal

Depois de 4 anos de insanidades patrocinadas pelo “mito” e seus adoradores, tudo o que o país não está precisando neste momento é de alguém que chegue da Espanha pra incendiar ainda mais o clima político que mal começou a esfriar. O Sr. Jean Willys deu hoje uma inequívoca demonstração daquele velho discurso do “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”, que de nada serve para apaziguar os ânimos e acabar com a polarização que, por si só, já se mostra exaustiva o bastante para os amantes da paz. 

Mas se fosse apenas pela animosidade que alguns insistem em manter ainda passava, mas o novo integrante da SECON no governo Lula, numa única postagem, fez tudo o que ele sempre criticou na direita desde que ingressou na política, e do qual afirma vir sendo vítima ao longo de toda a sua trajetória como deputado federal. 

Ele já começou escolhendo mal o alvo de seu ataque: uma pessoa de direita sim, mas vista por ele como um inimigo a destruir, mesmo sem tê-lo provocado, o que transforma sua fala num ataque gratuito justamente contra um político cujo perfil em nada lembra o militante radical que estivemos acostumados a ver nesses últimos anos de extremismo fascitóide no exercício do poder. Mas ficará mais facil entender o caso se nos atermos às palavras do Jean Willys em sua postagem dirigida a Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, em resposta a uma postagem deste último no Twitter: 

Que governadores héteros da direita e extrema direita fizessem isso já era esperado. Mas um gay...? Se bem que gays com homofobia internalizada em geral desenvolvem libido e fetiches em relação ao autoritarismo e aos uniformes. Se for branco e rico então... Tá feio, bee!” 

Isto porque o governador publicou que irá manter o programa de escolas cívico-militares no RS. Então é o caso de se perguntar:  E daí, Sr. Jean Willys? Está querendo dizer que o direito ao contraditório só vale para a esquerda e não para a direita, mesmo que seja prerrogativa dela e em plena consonância com a lei? Até porque Eduardo Leite reagiu como é esperado de qualquer legalista: buscou os caminhos legais para reparar os danos pelo ataque que recebeu, sem rebaixar-se ao nível do agressor. 

Jean Willys poderia até ter se posicionado contra a idéia do político – que é seu direito constitucional – mas não proferindo ataques à pessoa humana, e muito menos com insinuações caluniosas associadas à sua orientação sexual, que denuncia um revanchismo raivoso contra os algozes que seus diálogos internos lhe ditam, e não necessariamente os da realidade que vivenciamos. Como gay que assume sua condição, ele se posiciona como defensor dos direitos das pessoas LGBT+, mas usa dos mesmos meios que condena em seus agressores ao atacar a moral de Eduardo Leite com expressões homofóbicas não direcionadas ao político, mas à pessoa do governador e de forma gratuita, já que Leite simplesmente tornava pública uma posição que lhe compete enquanto gestor,  concordemos ou não com ela. 

Como alguém de pensamento político identificado com as premissas de um governo de esquerda, também sou contrário às escolas cívico-militares por “n” razões, mas é uma posição pessoal com quem ninguém precisa concordar. Mas a partir do momento em que taxamos todo e qualquer militar de fascista, não fazemos nada diferente do que os militares fizeram nos 21 anos de ditadura, quando acusavam toda pessoa de esquerda de ser comunista. 

Pessoalmente, meu sentimento ao ler a fala de Jean Willys ao governador do RS foi de repúdio e constrangimento, ao ver alguém  que se diz de esquerda contrariando todos os princípios que a esquerda se propõe a defender. Principalmente quando faz uso dos mesmos meios com que essa esquerda se deparou ao longo de toda a sua história, na tentativa de substituir combates pessoais pelo amplo debate no plano das idéias. 

E o que fez o Sr. Jean Willys com sua fala, se não dar mais munição aos que acreditam que adversário político é um inimigo a exterminar, em vez de um contraponto que nos desafia a crescer? Simplesmente reacendeu o rastilho de pólvora que se esteve tentando extinguir nos últimos meses, com a retomada da legalidade e da definição clara entre crime e direito de expressão, entre patriotismo real e conspiração, entre escolhas ideológicas e o que determina a lei. 

Jean Willys tão somente ofereceu aos radicais a prova que eles tanto buscavam de que ser de esquerda ou de direita é mera questão de lados, pois que as armas são exatamente as mesmas, e o “lado certo” tem mais a ver com a trincheira que escolhemos ocupar do que com os valores que se precisa preservar.  Defendê-lo, simplesmente porque se diz de esquerda, é adotar tais premissas, e nas próximas disputas não se ater às propostas dos diferentes lados, mas sortear qualquer um deles nos dados, o que é lamentável!